Tornar-se pai
Os pais não nascem pais, tornam-se pais. Preparar-se, desde a concepção, para desempenhar este excitante papel significa ter uma oportunidade de embarcar numa gratificante aventura, um segredo que um crescente número de pais, realizados com o seu papel, gostaria de partilhar com seus semelhantes.
Numa sociedade onde, há não muito tempo atrás, os pais eram quase sempre relegados ao simples papel de provedores, outros modelos de paternidade tinham que ser inventados. Portanto, assuma o seu posto enquanto presença importante e única na vida do seu filho e crie o seu próprio papel de pai! As informações que vai encontar aqui, em outros sítios, livros e revistas, ou na troca com outros pais, famílias e profissionais de diversas áreas que vão passar a fazer parte da sua vida em função do seu filho podem ser bastante relevantes para que descubra os caminhos a seguir no desempenho e na construção deste novo papel.
Comprometer-se e dedicar-se ao seu recém-nascido o mais cedo possível torna mais fácil o estabelecimento de um forte e importante laço entre vocês. Foi isso o que fez quando, durante nove meses, esteve a preparar a chegada do seu bebé e teve a oportunidade de acompanhar a gravidez através das ecografias, do curso de preparação para o nascimento que fez com a sua parceira e a sentir os movimentos do bebé dentro da barriga da mãe. Mas hoje a sua vida está completamente mudada. A sua rotina e a sua casa estão viradas do avesso, a sua parceira está exausta, e a sua vida conjugal parece ter desvanecido. Em resumo, já não existe um ponto de referência.
Não entre em pânico! Assim como tantos outros pais antes de si, vai adaptar-se a esta vida nova e aparentemente desestabilizadora. Algumas atitudes podem ser úteis:
- Reconheça as suas emoções – O nascimento de uma criança pode fazer florescer uma série de emoções. O primeiro passo é reconhecê-las. Alguns homens querem fugir: absorvem-se com o trabalho, com o desporto ou com algum projecto novo. O desejo de escapar muitas vezes mascara o medo de assumir um compromisso. Pode ser difícil reconhecer e compreender as suas emoções, mas é essencial que o faça e que as expresse e comunique de uma forma saudável. Isso permitirá que continue o seu processo de adaptação ao papel de pai.
- Participe dos cuidados do vosso bebé – Não existe uma fórmula fácil para tornar-se um pai perfeito. Participar nos cuidados diários do seu bebé fará com que se torne a cada dia mais confiante. Vai conseguir descobrir as suas próprias formas de fazer as coisas, que podem ser diferentes das da sua parceira. O mais importante é que ambos acreditem em valores partilhados e nos resultados esperados. Algumas mulheres podem ter dificuldade em partilhar as responsabilidades acerca do bebé. Pode ser necessário manifestar o seu desejo e conversar com ela sobre os benefícios que esta partilha poderá trazer para toda a família.
- Mantenham a vossa intimidade enquanto casal – Logo após o nascimento do bebé, os pais, às vezes, têm a impressão de que estarão sempre naquela correria e que não conseguirão tão cedo nem partilhar uma refeição. A identidade do casal parece estar destruida. Não se preocupe: as coisas ficarão mais fáceis quando cada um de vocês tiver estabelecido uma rotina. Planeie momentos de descanso a dois. Procure compreender o que acontece com a sua perceira durante o período do pós-parto. Quando ambos estiverem adaptados aos seus novos papéis, o desejo de intimidade retornará, ainda que isso possa ocorrer em momentos diferentes.
- Aceite ajuda da família e dos amigos – O suporte da família e dos amigos pode ser valioso durante este período de adaptação. Aceite as suas ofertas de ajuda e delegue tarefas domésticas e o preparo de refeições, por exemplo. No entanto, tenha a ceteza de preservar a rotina que necessita para familiarizar-se com as suas novas responsabilidades. É muito importante não se deixar oprimir e protejer a intimidade do casal e da família.
Conselhos de pai para pai:
- Adopte procedimentos claros para fazerem coisas enquanto casal;
- Definam as tarefas de cada um;
- Manifeste o seu desejo de cuidar do bebé;
- Lembre-se sempre de se dar uma chance para: aprender; crescer enquanto pai; assumir o seu papel enquanto pai (diferente da mãe);
- Quando a sua rotina voltar ao normal, reserve momentos agradáveis com a sua mulher, com o seu bebé, e também para si próprio.
A importância da relação pai-filho
Uma vez que a relação pai-filho é diferente da relação mãe-filho, ela é muito importante, tanto para os rapazes, quanto para as raparigas. É frequente que um pai estabeleça laços especiais com o seu filho a brincar com ele. Estes laços tornar-se-ão mais significativos com o passar do tempo. Um pai representa um modelo que é diferente daquele representado pela mãe. Ele gosta de brincar activamente com o seu filho, normalmente é mais severo e, frequentemente, é mais inclinado a encorajar a criança a explorar o seu ambiente e buscar a sua independência.
Não há dúvidas de que a qualidade da relação pai-filho afecta a interacção entre a criança e outras crianças e adultos.
No entanto, pai e mãe devem concordar com as regras familiares e suas aplicações. A disciplina imposta com uma abordagem harmoniosa será muito valiosa no futuro. É muito mais fácil ser pai/mãe quando se pode contar com o/a parceiro/a. Será também muito mais enriquecedor para a família.
Um homem também «engravida»
Hoje em dia considera-se que o papel do pai é tão importante como o da mãe na relação com o bebé, logo desde o nascimento e até durante a gravidez! Mas nem sempre assim foi!
Sabia que:
- Só há cerca de 300 anos se começou a valorizar os laços emocionais entre os membros de uma família?
- Há cerca de 200 anos a evolução económica e industrial nas sociedades ocidentais contribuiu para um afastamento entre pais e filhos e ocorreu um grande número de separações?
- Só há cerca de 100/150 anos, com as primeiras escolas, se começou a dar importância à criança e ao seu desenvolvimento?
- Só de há 100 anos para cá os homens começaram a investir mais nas relações afectivas com as esposas e com os filhos? E que esse investimento foi abalado pela II Grande Guerra Mundial?
- Só a partir do pós-guerra se começaram a realizar estudos sobre o desenvolvimento emocional das crianças e da relação com os pais?
- Só a partir dos anos 60/70 os pais começaram a ter um papel mais activo na vida familiar e na educação dos filhos?
- Só a partir dos anos 90 os pais começaram a poder assistir ao parto dos seus filhos em Portugal?
- Só muito recentemente em Portugal pais têm por lei, a possibilidade de usufruir de licença de paternidade, bem como de assistência à família quando têm um filho a necessitar de cuidados?
Pois é, só nos dias de hoje se fala da importância do pai e do seu papel. Só muito recentemente os chamados ?cuidados maternos?, deixaram de ser um domínio exclusivo das mães. Assim, algumas áreas do conhecimento, admitem hoje a existência de uma vivência entre pai e bebé mais precoce do que antes se pensava, bem como se reconhece o impacto que a gravidez e o nascimento de um filho têm na vida de um homem! Podemos dizer que um homem não engravida com a barriga, como as mulheres, mas engravida com a cabeça e com o coração, e isso acontece a partir do momento em que um homem deseja e pensa ter um filho.
Maria da Conceição Teixeira
PSICÓLOGA
Participação do pai no aleitamento materno
Olá pai!
É sem dúvida uma grande alegria ser pai! Embora também se reconheça ser uma grande preocupação.
Nos dias que correm, quando um bebé nasce, os pais estão cada vez mais presentes e mais participativos e o mesmo acontece antes do nascimento. Por isso, este espaço é para si, pai que se interessa, que deseja participar mais activamente.
O aumento da presença do pai permite que este compartilhe com a mãe a primeira emoção da notícia da gravidez, bem como os momentos das consultas ou das ecografias, inclusive no momento do parto. Tem sido uma longa e lenta evolução, a da participação e intervenção dos pais, à qual fazemos referência noutro contexto (Veja a seguir: Um homem também «engravida»).
Agora gostaríamos mesmo de falar sobre o aleitamento materno. O aleitamento materno não é um assunto que só diga respeito à mãe. É um assunto que diz respeito também ao pai e aos dois enquanto casal. Sabe que o pai pode colaborar activamente no aleitamento materno?
Pois é, o pai, tal como a mãe, também fica muito sensível ao bebé e também estabelece com ele uma interacção logo desde os primeiros momentos. Também o ama, embala, toca, trata, segura, sorri-lhe, tal como a mãe! O papel do pai, na fase logo a seguir ao nascimento, é muito importante, não só na relação com o bebé, mas também no apoio à mãe. E no que se refere ao aleitamento materno, o pai pode ajudar, e muito, a mãe e o bebé. O pai pode encorajar a mãe e incentiva-la a dar de mamar, pois a opção pelo leite materno é uma decisão que pode ser tomada a dois.
E enquanto a mãe amamenta:
- O pai pode estar por perto ajudando a mãe e o bebé a posicionarem-se confortavelmente.
- O pai pode ficar juntinho se esta for a vontade ou o desejo da sua companheira, ajudando-a a sentir-se mais segura e confiante.
- O pai pode ajudar, ocupando-se de outro filho, caso exista, enquanto a mãe está ocupada com o bebé a dar-lhe de mamar.
- O pai pode trazer o cesto/caixa com os utensílios necessários, (fraldas, discos para o peito, cremes, etc.) de apoio à amamentação.
- O pai pode, no final, ajudar o bebé a arrotar.
Enfim, o papel do pai é extremamente importante e indispensável. O pai tem assim três acções fundamentais para o desenvolvimento harmonioso do bebé e da dinâmica familiar:
- amar a mãe, o que dá um sentimento de confiança e segurança à sua companheira e contribui para o seu papel de mãe e de realização enquanto mulher;
- estar presente e dar apoio activo, ajudando e participando nas diversas tarefas com mãe e/ou com o bebé;
- apoiar/tratar o bebé, estando presente e interagindo com o filho desde o início.
Mas nem sempre as coisas correm como desejam. E um pai pode também ter dúvidas.
Por vezes um homem pode também sentir-se:
- inseguro;
- com dúvidas se estará a ser um bom pai;
- se a mulher lhe irá deixar de dar tanta atenção.
Um pai pode até sentir ciúmes do bebé que acabou de nascer, pois ama-o muito mas pode ter receio que a relação entre o casal se altere e ele fique para segundo plano. Quando isso acontece, o que é normal, procure sempre conversar com a sua companheira. O diálogo pode fazer com que pequenos contratempos não tomem proporções indesejáveis. E quando, por alguma razão, um casal não consegue resolver a situação sozinho, não devem ter receio de pedir ajuda a um técnico de saúde.
Em suma:
A participação confiante e segura do pai promove o aleitamento materno contribuindo para que a mulher possa dar de mamar por mais tempo, nesta escolha feita a dois e que vai aumentar a auto-estima da mãe e um desenvolvimento mais saudável do filho.
Disposições legais aplicáveis à paternidade
Licença por paternidade
O pai tem direito a uma licença por paternidade de cinco dias úteis, seguidos ou interpolados, que são gozados no primeiro mês a seguir ao nascimento do filho.
O pai tem ainda direito a licença, por período de duração igual àquele a que a mãe teria direito ou ao remanescente daquele período caso a mãe já tenha gozado alguns dias de licença, nos seguintes casos:
- Incapacidade física ou psíquica da mãe, enquanto esta se mantiver;
- Morte da mãe;
- Decisão conjunta dos pais (conforme artigo 36º, Código do Trabalho).
- O trabalhador que pretenda gozar a licença por paternidade, por decisão conjunta dos pais, deve informar o empregador com a antecedência de 10 dias e:
- a) Apresentar documento de que conste a decisão conjunta;
- b) Declarar qual o período de licença por maternidade gozado pela mãe, que não pode ser inferior a seis semanas a seguir ao parto;
- c) Provar que o empregador da mãe foi informado da decisão conjunta (conforme artigo 69º, Regulamentação).
Licença parental e especial para assistência a filho ou adoptado
Para assistência a filho ou adoptado e até aos 6 anos de idade da criança, o pai e a mãe que não estejam impedidos ou inibidos totalmente de exercer o poder paternal têm direito, alternativamente:
- A licença parental de três meses;
- A trabalhar a tempo parcial durante 12 meses, com um período normal de trabalho igual a metade do tempo completo;
- A períodos intercalados de licença parental e de trabalho a tempo parcial em que a duração total da ausência e da redução do tempo de trabalho seja igual aos períodos normais de trabalho de três meses (conforme artigo 43º, Código do Trabalho).
- Para informações acerca dos critérios de remuneração, consultar o regime geral da Segurança Social em vigor.
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Regulamentação – Ler mais…